União pela paz: Observatório da Paz e a Assembleia Nacional Popular celebram o Dia Internacional da Paz com jornada pela coesão social

No dia 21 de setembro, o Observatório da Paz – Nô Cudji Paz, em colaboração com a Assembleia Nacional Popular e a Coordenação do Sistema das Nações Unidas na Guiné-Bissau, celebrou o Dia Internacional da Paz com uma jornada dedicada a esta efeméride. Esta iniciativa teve como objetivo promover a coesão social e a consolidação da paz no país, através do debate e da reflexão sobre o papel de todos os atores nacionais na prevenção do radicalismo e extremismo violento (PREV) na Guiné-Bissau.

Os guineenses foram convocados a assumir a sua responsabilidade individual e coletiva na promoção dos valores da coesão nacional e da paz, e responderam de forma massiva. O evento reuniu 200 personalidades no mais importante hemiciclo do país, das quais 95 eram mulheres.

A cerimónia foi pautada por três momentos significativosprimeiramente, os trabalhos foram encetados com uma peça de teatro ilustrativa de um cenário de opressão, na qual um grupo de cidadãos vê os seus direitos cerceados pelo Estado, o qual prende, julga e aplica a pena máxima de forma autoritária sobre todos os que não se dobram perante as suas decisões políticas. A peça apresentada pelo Centro de Teatro de Oprimido do Fórum de Paz ilustrou, igualmente, o impacto da pobreza extrema na distorção dos valores da paz e da coesão social.

Num segundo momento, os líderes religiosos representantes das comunidades Islâmica, Católica e Evangélica no país, juntaram as suas vozes em uníssono num apelo à paz, instando os atores políticos e sociais a seguir o seu exemplo de união e tolerância religiosa.

“Há muitos anos andamos juntos de mãos dadas, hoje estamos aqui para apelar à unidade, paz, e entendimento entre os guineenses”, apelou o pastor Joaquim Correia, do Conselho Nacional das Igrejas Evangélicas“O meu irmão muçulmano, o meu irmão católico”, disse o pastor. Correia, enquanto abraçava os representantes dessas comunidades ao seu lado.

Imame Aladje Alfucene Banjai, representando a comunidade muçulmana, “o significado da palavra islamismo é paz e tolerância, significando a submissão voluntária à vontade de Deus.” Banjai refere ainda que “sem paz e sem tolerância não pode haver desenvolvimento. É por isso que pedimos aos nossos políticos e dirigentes para a sentirem no coração, e não somente na palavra.”

Por seu turno, o padre Queilando Djaquité, representando a Igreja Católica, disse que “a paz é um bem precioso. Enquanto respirarmos, temos de lutar pela paz. Temos de nos olhar no rosto uns dos outros e nos perdoarmos uns aos outros.”

Por fim, num terceiro momento, decorreram as intervenções públicas solenes presididas pelo Presidente da Assembleia Nacional Popular, o Eng.º Domingos Simões Pereira, que afirmou: “a paz é, acima de tudo, justiça social, é equidade na distribuição de recursos a que todos pertencem, para que todos possam beneficiar, reconhecendo a sua contribuição e a angariação de acordo com os preceitos formulados nas leis, e tendo sempre presente a solidariedade social”.

Presidente do Parlamento também observou que a sociedade guineense está mais vulnerável à insegurança, devido ao aumento do tráfico internacional de droga. Expressou a sua preocupação com os cidadãos encarcerados sem determinação das instâncias judiciais. Segundo Simões Pereira, “neste dia o ideal é refletirmos profundamente e de forma retrospetiva sobre o passado e o presente e todos os fenómenos que mais impactam a nossa humanidade e a convivência global. Estes fatores têm favorecido e fortalecido os grupos de extremismo e terrorismo que cultivam a violência extrema junto das populações mais desfavorecidas e menos protegidas.”

Segundo o presidente da ANP, “o extremismo procura quase sempre a parte vulnerável dos jovens, trabalha as suas mentes, os alicia, e acaba importando para colaborarem nas suas mais violentas formas de semear o terror, e criarem condições favoráveis para o contrabando e tráfego de humanos em regiões onde a presença do estado ainda é escassa ou ainda é uma miragem”.

Por fim, informou que a ANP “criou uma comissão para a organização da Conferência Nacional designada: Caminhos para a Consolidação da Paz e do Desenvolvimento”.

Para Domingos Simões Pereira “resta, pois, então, que cada um de nós isoladamente, ou de forma coletiva, trabalhe para a criação de um ambiente propício e favorável para que a paz conquistada seja uma realidade no consolidada no nosso país.”

O presidente da ANP concluiu referindo que “a paz é acima de tudo justiça social, é equidade na repartição dos recursos que a todos pertencem, para que todos possam beneficiar.”

Embaixador da União Europeia (UE) na Guiné-Bissau, Dr. Artis Bertulis, elogiou esta iniciativa por ser um sinal importante de convergência dos atores nacionais em torno dos valores da paz e da coesão nacional, designadamente, após as eleições legislativas de 4 de junho de 2023. Reconheceu o desafio global causado pelo radicalismo e extremismo violento e reiterou o apoio da União Europeia no combate a esse fenómeno.

Segundo Bertulis “a paz não pode ser mantida pela força, só pode ser alcançada pelo entendimento.”

Segundo o Embaixador da UE a Guiné-Bissau pode esperar da União Europeia, “hoje e amanhã, uma parceria sólida baseada em interesses comuns, nomeadamente, a promoção da paz, a consolidação da democracia, do Estado de direito, das instituições do Estado e também do papel da sociedade civil.”

A representante residente do PNUD na Guiné-Bissau, Dra. Alessandra Casazza, alertou para a crescente ameaça à paz em todo o mundo, destacando a situação crítica que afeta 25% da população mundial a viver em áreas afetadas por conflitos. Enfatizou, igualmente, o impacto negativo desta realidade, incluindo o encerramento de escolas na região da África Ocidental devido a ataques e ameaças de grupos extremistas violentos. “A paz não é apenas a ausência de guerra, não é apenas a ausência de conflito armado, mas implica um processo de progresso, justiça e respeito recíproco” – disse a representante das Nações Unidas. Citou ainda Nelson Mandela, prémio Nobel da Paz: “A paz é a maior arma para o desenvolvimento que qualquer povo pode ter” (discurso de 1998).

O Embaixador de Portugal, Dr.  José Rui Baptista Borges Velez Caroço, enalteceu o privilégio e grande honra de “estar aqui a assinalar o Dia Internacional da Paz precisamente na Assembleia Nacional Popular, o Parlamento, a Casa do Povo da Guiné-Bissau”.

O senhor Embaixador, disse ainda que “a paz nunca é um dado adquirido e nos dias de hoje sabemos bem que no contexto regional, no contexto continental, no contexto mundial, estamos muito longe de ter essa paz.” “No fundo quando falamos da paz falamos de direitos humanos em toda a sua dimensão, política, social, económica, cultural. É falar do Estado de Direito. É falar do Império da lei. Da igualdade, da igualdade de género, no fundo a concretização pela Declaração Universal dos Direitos Humanos” – concluiu José Caroço.

O Dr. Bubacar Turé, Presidente Interino da Liga Guineense dos Direitos Humanos e coordenador do projeto Observatório da Paz, destacou a necessidade contínua de construir a paz, particularmente, perante a ameaça crescente do radicalismo e extremismo violento. Turé convocou todos os atores nacionais a unir esforços na prevenção desse fenómeno. Citando Anna Eleanor Roosevelt (1884-1962), ex-primeira-dama dos Estados Unidos da América e ativista de direitos humanos entre os anos de 1933 e 1945: “não basta falar de paz. É preciso acreditar nela. Não basta acreditar nela. É preciso trabalhar com ela”.

A cerimónia reuniu diversas autoridades do Estado, líderes religiosos, membros da sociedade civil e outros atores, unidos pela paz e coesão na Guiné-Bissau. Esta celebração serve como um alerta para que saibamos que a paz é um valor precioso que requer o esforço contínuo e a colaboração de todos os setores da sociedade para ser mantida e fortalecida.

Veja o vídeo completo da cerimónia:

O projeto Observatório da Paz – Nô Cudji Paz é financiado pela União Europeia e cofinanciado pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P, implementado pelo Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF) e pela Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH). A ação pretende contribuir para o diálogo e para a promoção da paz, através do reforço da participação, do trabalho em rede e do estabelecimento de parcerias estratégicas com a sociedade civil, designadamente, abrangendo, diretamente, as mulheres jovens e adultas, com vista à prevenção da radicalização e do extremismo violento na Guiné-Bissau.