Observatório da Paz promove sessão sobre o Radicalismo e o Extremismo Violento na X Conferência da União Regional dos Padres da África Ocidental (URPAO) em Bissau

Na sequência do diálogo e articulação com os líderes religiosos na Guiné-Bissau, o Observatório da Paz – Nô Cudji Paz participou na X Conferência Regional dos Padres da África Ocidental – URPAO, que decorreu entre os dias 2 e 9 de junho, em Bissau, tendo colocado em destaque a temática da Prevenção do Radicalismo e Extremismo Religioso.

A URPAO – União Regional dos Padres da Africa Ocidental (RUPWA – URPAO – Regional Union of Priests of West Africa) reúne anualmente num dos países membros para refletir sobre o processo de evangelização e a situação sociopolítica, tanto a nível regional, como mundial. A edição de 2024 foi organizada pela Associação do Clero Diocesano da Guiné-Bissau, que inclui as Dioceses de Bissau e de Bafatá.

Tendo como tema da Conferência “O papel profético dos padres face à intolerância e à instrumentalização étnico-religiosa na África Subsaariana”, o Observatório da Paz associou-se a este evento, promovendo uma sessão relativa ao “Extremismo Violento na África Ocidental”.

Perante 40 padres e delegados dos países representados na X Conferência – Guiné-Bissau (país anfitrião), Benim, Burquina Fasso, Costa do Marfim, Senegal, Gâmbia, Guiné-Conacri, Serra Leoa e Togo -, Moustapha Welle, especialista em radicalismo e extremismo violento, em representação do Instituto Timbuktu, um think tank senegalês com experiência na temática e entidade parceira do Observatório de Paz, foi o orador convidado, numa sessão moderada por Bubacar Turécoordenador do Observatório e Presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos.

Na sua apresentação, Moustapha Welle falou sobre o surgimento e as ramificações de diferentes grupos extremistas que operam na África Ocidental, sobretudo em países como a Nigéria, Mali, Burquina Fasso e Chade.

Segundo Welle, o fenómeno do extremismo violento tem raízes complexas e pode variar ao longo do tempo. “As mudanças políticas, geográficas e económicas no mundo deram origem a uma nova configuração das relações e das ambições entre os diferentes atores da cena internacional, caracterizada por ideologias separatistas, exclusão de minorias ou grupos políticos, violência pós-eleitoral e antagonismos radicais entre comunidades religiosas, tribais ou étnicas.”

Welle apontou ainda várias situações que podem fomentar a doutrinação e expansão de ideologias extremistas, como as desigualdades sociais resultantes de estruturas de governação fracas, falta de políticas de desenvolvimento, desemprego endémico dos jovens, um sistema de ensino de baixa qualidade, atos de violência por forças de defesa e segurança contra civis inocentes, intolerâncias étnicas e religiosas crescentes, violações de direitos humanos, discriminações infundadas e discursos de ódio contra grupos minoritários.

Neste sentido, os grupos que praticam o extremismo violento aproveitam as fragilidades dos países: “atualmente a situação é alarmante em África, pois, apesar de alguns países ainda não terem sido afetados, é um fenómeno crescente, nas suas várias formas de violência, como por exemplo, pós-eleitorais, raptos e criminalidade organizada, que constituem terreno fértil para a entrada e a consolidação de ideologias radicais e extremistas.”

Para prevenir o fenómeno de radicalização e extremismo violento, Welle sugeriu várias medidas: governação inclusiva focada na resolução dos problemas e necessidades básicas da população; combate à corrupção; distribuição equitativa dos recursos públicos; adoção de políticas públicas com enfâse nas necessidades específicas dos jovens e mulheres; criação de forças de defesa e segurança profissionais, democráticas e respeitadoras de direitos humanos; sensibilização das comunidades sobre a cultura da paz, justiça, cidadania e direitos humanos, incluindo igualdade de género; e adequação do sistema educativo às realidades socioculturais dos países.

No encerramento da X Conferência, os participantes formularam várias recomendações, destacando a promoção da paz, verdade e justiça; a erradicação da instrumentalização étnica e religiosa para fins políticos; incentivo ao diálogo inter-religioso; e a promoção da coesão e unidade nas comunidades.

O Observatório da Paz – Nô Cudji Paz é financiado pela União Europeia e cofinanciado pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., sendo implementado pelo Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF) e pela Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH). Este projeto visa contribuir para o diálogo e a promoção da paz, reforçando a participação, o trabalho em rede e o estabelecimento de parcerias estratégicas entre organizações da sociedade civil e outros atores sociais e políticos, com o objetivo de prevenir a radicalização e o extremismo violento na Guiné-Bissau.