Lançamento do projeto “Observatório da Paz – Nô Cudji Paz”

A Embaixadora da UE, Dra. Sónia Neto, acompanhada pelos principais líderes religiosos da Guiné-Bissau, e pela Coordenação do Projeto – Dirigentes da Liga Guineense dos Direitos Humanos e Administradores Executivos do IMVF. 

“Povo da Guiné nós somos irmãos, não devemos aceitar a divisão!” foram as palavras que ecoaram na manhã de 20 de julho, no salão de conferências Vítor Saúde Maria, no Palácio do Governo, em Bissau, pela voz do cantor bissau-guineense Binhan Quimor. Tratava-se da cerimónia de apresentação oficial do projeto “Observatório da Paz – Nô Cudji Paz” (‘Escolhemos a Paz’), financiado pela União Europeia e implementado pelo IMVF e pela Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH).

Bubacar Turé, coordenador do projeto, referiu que a recém-criada iniciativa terá a duração de 39 meses e visa contribuir para a consolidação da paz e a coesão nacional na na na Guiné-Bissau, através do reforço da participação cívica, trabalho em rede e estabelecimento de parcerias estratégicas entre as organizações da sociedade civil e as instituições do Estado.

“Povo da Guiné nós somos irmãos, não devemos aceitar a separação, nós somos irmãos!” refere a música “Paz” que Binham Quimor interpretou ao vivo. Numa feliz coincidência entre a mensagem imortalizada nesta canção e o objetivo da ação, que pretende funcionar como instância de identificação e prevenção de fenómenos sociais que possam colocar em causa a paz, através de comportamentos ou sinais de radicalização e extremismo violento.

A sessão de abertura contou com as intervenções do Presidente da LGDH, Dr. Augusto Mário da Silva, do Administrador Executivo do IMVF, Dr. Ahmed Zaky, da Embaixadora da União Europeia na República da Guiné-Bissau, Dra. Sónia Neto e, por fim, do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e Assuntos Parlamentares em Representação do Governo da Guiné-Bissau, Dr. Florentino Dias.

O Presidente da LGDH, Dr. Augusto Mário da Silva destacou as profundas transformações que a sociedade guineense registou no último quarto de século provocadas, por um lado, por um maior contacto com outros povos e culturas resultantes do fenómeno migratório, e por outro, por um maior acesso às redes sociais. “Se é verdade que este contacto com o mundo enriquece e fortalece a cultura guineense, não é menos verdade que coloca a sociedade guineense perante os fenómenos e desafios cada vez mais complexos, e socialmente perniciosos, nomeadamente, radicalizações extremistas violentas e criminalidade organizada, requerendo uma maior capacidade de prevenção e resiliência de todos”. E, nesse sentido, enalteceu a disponibilidade do Governo da Guiné-Bissau, em particular do Vice-Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau, Eng.º Soares Sambu, em acolher esta iniciativa, no sentido de, em conjunto e de forma articulada e reconhecendo os limites da intervenção de cada ator, contribuir para a Paz e o bem-estar geral.

“Vamos fazer crescer a paz entre nós, nós somos irmãos”, continua a música de Binhan Quimor, “nós misturamo-nos entre nós por causa do crioulo”. O Administrador Executivo do IMVF, Dr. Ahmed Zaky, pegou na deixa deixada pela melodia que todos ouviram respeitosamente e reforçou exatamente a sua perceção de que todos são irmãos, ou seja, enalteceu a salutar mistura entre etnias, culturas, religiões, tradições que caracterizam a Guiné-Bissau, perceção com que ficou desde 1998 no âmbito do projeto “desenvolvimento integrado em três bairros de Bissau”. Eram 3 bairros perfeitamente representativos da miscigenação guineense, da fusão cultural e étnica que coexiste pacificamente.

Como cantou Binhan Quimor, “paz, paz, paz”, o Dr. Ahmed Zaky referiu que “a paz é o alicerce de qualquer coesão social. Sem paz não há coesão social, não há construção de nações, não há Estado e não se pode proporcionar o desenvolvimento, o acesso à saúde, à educação, e o bem-estar das famílias, portanto, a paz é o alicerce para tudo.”

Em total sintonia, a Embaixadora da União Europeia, Dra. Sónia Neto destacou que este projeto só “será possível, se todos interiorizarmos que somos ramos do mesmo tronco, olhos na mesma luz, esta é a força da nossa união, tal como expressa o hino da república da Guiné-Bissau. Somente juntos, podemos prevenir o fenómeno da radicalização e do extremismo violento em prol de um bem maior e de um bem comum: a proteção e o bem-estar do povo da Guiné-Bissau.”

“A União Europeia, reconhece a necessidade de enfrentar a ameaça de terrorismo e de continuar a desenvolver cooperação” nos países da vizinhança, “para prevenir ou combater o extremismo violento através de quatro pilares: Prevenir, Proteger, Perseguir e Responder, respeitando ao mesmo tempo os direitos humanos.” A Embaixadora defende a adoção de “uma abordagem holística” que combina o acesso aos serviços básicos com as estratégicas de erradicação da pobreza e desemprego, promoção do desenvolvimento sustentável e da formação com uma “forte tónica na tolerância da qual o povo da Guiné-Bissau é um enorme exemplo”.

O Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e Assuntos Parlamentares em Representação do Governo da Guiné-Bissau, Dr. Florentino Dias felicitou a iniciativa da criação do Observatório da Paz, “uma estrutura que pela sua metodologia e foco de intervenção, complementará e tornará ainda mais robustos os esforços nacionais para a consolidação da Paz”. Destacou que a construção da paz deve ter uma abordagem transversal, envolvendo o Estado, as instituições da sociedade civil e as famílias.

“Nós vamos construir, na pátria imortal, a paz e o progresso” refere o refrão do hino “Esta é a Nossa Pátria Bem Amada” escrito em 1963 Amílcar Lopes Cabral. Nesse sentido, a Dra. Claudina Viegas, perita de género da LGDH, explicou que a paz social, o progresso e a coesão social só são possíveis com o reconhecimento do papel das mulheres, não só como “principais agentes económicos”, além de se constituirem como a maioria da população (+51%), mas igualmente pelo seu papel “na Prevenção da Radicalização e do Extremismo Violento (PREV)”.

João Monteiro, coordenador do projeto por parte do IMVF, focou a sua intervenção no papel que o “Observatório da Paz”, sedeado na Casa dos Diretos em Bissau, irá realizando passando pela identificação dos desafios locais, através de inquéritos, diálogo com a comunidade. A informação recolhida será tratada e documentada com contributos do Timbuktu Institute – Centro Africano de Estudos para a Paz, baseado no Senegal, e da Chatham House – do Instituto Real de Relações Internacionais, prestigiado think thank do Reino Unido. Os estudos e o diálogo comunitário propiciaram recomendações para atividades ou iniciativas que possam endereçar os fatores que melhor contribuem para a estabilidade e para a paz. A partir daí o projeto promoverá iniciativas que promovam a coesão social e vida em comunidade, o diálogo inter/intra-religioso e inter/intracomunitário, a valorização do papel de mulheres e jovens no combate à violência inclusive com uso a redes sociais, djumbais/workshops. Com vista a lutar contra a desigualdade e pela justiça social; responde aos fenómenos da migração e movimentos transfronteiriços, bem como combater o discurso de ódio.

“É preciso compreender, adaptar e inovar e por fim, dialogar”, referiu João Monteiro, aludindo necessariamente ao papel e conhecimento que será estabelecido com todos os grupos-alvos abrangidos: mulheres, jovens, líderes, autoridades, sociedade civil e media.

Por fim, referiu duas iniciativas como a “carta da paz” e a “estratégia nacional” como documentos participativos e inclusivos que conterão recomendações de boas práticas que possam ser divulgadas e adotadas por todos os atores que intervém na PREV.

O diálogo para a paz deve ser consubstanciado por projetos que promovam o desenvolvimento local como, por exemplo, o projeto Ianda Guiné! Djuntu, financiado pela União Europeia, o qual apoiou mais de 460 subvenções a nível nacional, bem como o projeto “No Sumia Paz” (Nós Semeamos Paz), também financiado pelo IMVF e implementado pelas organizações não-governamentais Aida, Associação dos Amigos da Criança da Guiné-Bissau e a Acra.

A cerimónia de apresentação do projeto contou igualmente com a presença da Ministra da Mulher, Família e Solidariedade Social, Dra. Maria da Conceição Évora; do Secretário de Estado da Ordem Pública, Dr. Augusto Fradique; dos representantes das confissões religiosas, designadamente o Bispo de Bissau, Dom Lampra Cá, o Presidente da União dos Imames, Aladje Suleimane Balde, o Presidente do Conselho Nacional Islâmico, Aladje Mamadu Sissé, o Presidente da Associação Juvenil para  a Reinserção Social, Infali Coté; do Embaixador do Reino de Espanha, da África do Sul, da Nigéria, o Encarregado de Negócios de Portugal, o Coordenador Residente das Nações Unidas, a Embaixadora da Paz, e a Administradora Executiva do IMVF, a Dra. Carolina Quina.

 

O projeto Observatório da Paz – Nô Cudji Paz é financiado pela União Europeia.