O Dia Internacional das Mulheres, celebrado a 8 de março, é uma data simbólica que reforça a luta pela igualdade de género e pelos direitos das mulheres. Além de celebrar as conquistas, a data também destaca os desafios persistentes, designadamente, a desigualdade estrutural e a violência de género. Na África Ocidental, região marcada por conflitos ligados ao radicalismo e extremismo violento (REV), as mulheres emergem não apenas como vítimas, mas, igualmente, como agentes transformadoras na prevenção. Os estudos das Nações Unidas e pesquisas académicas apontam que o seu papel é estratégico para a construção da paz e a coesão social.
Mulheres como agentes da paz e coesão social
De acordo com o relatório da ONU Women (2022), as mulheres na África Ocidental atuam como mediadoras comunitárias, educadoras e prestadoras de apoio socioeconómico, elementos cruciais para neutralizar as narrativas extremistas. Em países como a Nigéria, o Níger e o Mali, grupos como o Boko Haram e o JNIM exploram a marginalização económica e social para recrutar jovens. Nesse cenário, as mulheres líderes comunitárias e as organizações femininas têm promovido programas de educação e empoderamento económico, reduzindo a vulnerabilidade à radicalização. Um estudo do PNUD (2021) reforça que as comunidades com maior autonomia feminina registam menores taxas de adesão a grupos extremistas.
No âmbito do projecto Observatório da Paz, promovemos mais 40 eventos e iniciativas, com mais de 3 mil pessoas (3.112), das quais 1.415 são mulheres. Destacam-se as seguintes:
- 3 Rodas de Mulheres reuniram 560 participantes, das quais 525 são mulheres (94%), para debater temas como integração de género na prevenção do REV.
- Encontro Nacional dos Jovens contou com 100 participantes, sendo 50 jovens mulheres (50%), focado no papel da juventude pela paz e com uma Declaração Pública dos Jovens pela Paz.
- Ações de formação diversas e o Encontro Nacional de Mulheres, envolvendo 115 participantes, com 105 mulheres (91%), para empoderamento das mulheres como mediadoras de conflitos sociais.
Evento/Iniciativa | Data | Total de Participantes | Mulheres | Homens |
Formação mulheres jovens e adultas | Dia Internacional da Menina | out/23 | 65 | 55 | 35 |
Encontro Nacional de Mulheres | dez/24 | 50 | 50 | 30 |
1.ª Roda de Mulheres | jan/23 | 200 | 190 | 10 |
2.ª Roda Mulheres | jan/24 | 150 | 135 | 15 |
3.ª Roda Mulheres | jan/25 | 210 | 200 | 10 |
1.º Encontro Nacional de Jovens | nov/23 | 100 | 50 | 71 |
Na 3.ª Roda de Mulheres, realizada em janeiro de 2025 em Bissau, a Ministra da Justiça e dos Direitos Humanos, Dr.ª Maria do Céu Silva Monteiro, destacou que “a exclusão e discriminação das mulheres são baseadas na lógica do poder patriarcal, refletidas em fenómenos como a mutilação genital feminina, a violência doméstica, o casamento precoce, o acesso limitado a recursos como terras e créditos, a fraca representação institucional e a desigualdades na justiça e na economia”. Já a coordenadora da FINJOR, Muscuta Fati, defendeu a educação como ferramenta essencial para a emancipação feminina. “Acreditamos que o desenvolvimento de qualquer nação só é possível com a promoção da igualdade de género. Apesar dos desafios, devemos apostar numa educação inclusiva e de qualidade para todas as meninas guineenses”, afirmou.
Dados Estatísticos e a Sub-representação Feminina
Apesar de evidências mostrarem que os acordos de paz com mulheres têm 35% mais hipóteses de durar 15 anos, em 2022, menos de um terço dos acordos de paz incluíram disposições de género. Entre 1992 e 2019, apenas 13% dos negociadores e 6% dos mediadores eram mulheres, refletindo uma realidade global: 7 em cada 10 processos de paz excluíram totalmente as mulheres
Conclusão
No Dia Internacional das Mulheres, é vital reconhecer que a igualdade de género é estratégica para combater o extremismo. Na África Ocidental, onde os conflitos ameaçam a estabilidade regional, as mulheres são pilares da resistência pacífica, mas ainda enfrentam barreiras estruturais. O Observatório da Paz, na Guiné-Bissau, exemplifica iniciativas que capacitam as mulheres como guardiãs da paz, promovendo o diálogo e identificando sinais precoces de radicalização. Garantir a sua inclusão em políticas públicas é essencial para construir sociedades resilientes e equitativas.
Referências:
- Ferreira, Patrícia Magalhães (2024). Desenvolvimento e Segurança – Quadro de Ação para Políticas Coerentes, FEC – Fundação Fé e Cooperação e IMVF – Instituto Marquês de Valle Flôr
- Artigos e relatórios do Observatório da Paz: Encontro Nacional de Mulheres, 3.ª Roda de Mulheres, Ação de formação e capacitação; Encontro Nacional de Jovens;
- ONU Women. (2020). Dimensões de género do extremismo violento e das respostas na África Oriental. UN Women. Disponível em https://www.unwomen.org/sites/default/files/Headquarters/Attachments/Sections/Library/Publications/2020/Gendered-dimensions-of-violent-extremism-responses-Eastern-Africa-pt.pdf.
- DCAF & Parlamento da CEDEAO. (s.d.). Guia Parlamentar sobre Governança do Setor de Segurança na África Ocidental. DCAF – Geneva Centre for Security Sector Governance. Disponível em https://www.dcaf.ch/sites/default/files/publications/documents/ECOWAS%2520Parliament-DCAF%2520Guide%2520port.pdf.
- IMVF – Instituto Marquês de Valle Flôr. (2024). Estudo compreensivo sobre o extremismo violento na Guiné-Bissau. Observatório da Paz. Disponível em https://www.imvf.org/wp-content/uploads/2024/05/estudo-compreensivo-extremismo-observatorio-da-paz-guine-bissau.pdf.
- Conselho de Segurança das Nações Unidas. (2000). Resolução 1325 (2000) sobre mulheres, paz e segurança. Disponível em https://undocs.org/S/RES/1325(2000